Quem sou eu

Professor de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, de Lingua Francesa, linguista, pedagogo, psicopedagogo, assessor em Educação

terça-feira, 23 de outubro de 2012


Sermão do Mandato de Padre Antônio Vieira

Começando pelo amor. O amor essencialmente é união, e naturalmente a busca: para ali pesa, para ali caminha, e só ali pára. Tudo são palavras de Platão, e de Santo Agostinho. Pois se a natureza do amor é unir, como pode ser efeito do amor o apartar? Assim é, quando o amor não é extremado e excessivo. As causas excessivamente intensas produzem efeitos contrários. A dor faz gritar; mas se é excessiva, faz emudecer: a luz faz ver; mas se é excessiva, cega: a alegria alenta e vivifica; mas se é excessiva, mata. Assim o amor: naturalmente une; mas se é excessivo, divide: Fortis est ut mors dilectio: o amor, diz Salomão, é como a morte. Como a morte, rei sábio? Como a vida, dissera eu. O amor é união de almas; a morte é separação da alma: pois se o efeito do amor é unir, e o efeito da morte é separar, como pode ser o amor semelhante à morte? O mesmo Salomão se explicou. Não fala Salomão de qualquer amor, senão do amor forte? Fortis est ut mors dilectio: e o amor forte, o amor intenso, o amor excessivo, produz efeitos contrários. É união, e produz apartamentos. Sabe-se o amor atar, e sabe-se desatar como Sansão: afetuoso, deixa-se atar; forte, rompe as ataduras. O amor sempre é amoroso; mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta os extremos mais distantes: enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos.

Trecho de Sermão do Padre Antônio Vieira sobre a vida da Santa Teresa D'Ávila
Um dos maiores favores que Santa Teresa recebeu de Deus, e em que excedeu a todos ou quase todos os santos, foram dois segredos que o mesmo Senhor lhe revelou, ocultos a todos os homens: o primeiro, quando havia de morrer; o segundo, que se havia de salvar.                                                                  

Alguns santos tiveram revelação de sua morte; Santa Teresa teve-a de sua morte e de sua predestinação. Por isso digo que Santa Teresa vigiou sabendo mais que o dia e mais que a hora: soube o dia e a hora, porque soube quando havia de morrer, e soube mais que o dia e mais que a hora, porque soube também que, morrendo, se havia de salvar. E que sobre estas duas ciências, sobre a ciência e certeza de quando havia de morrer, e sobre a ciência e certeza de que se havia de salvar, vigiasse, contudo, Santa Teresa sem adormecer nem se descuidar um momento, antes fazendo uma vida tão rigorosa e tão maravilhosa, esta é a maior maravilha de toda a sua.
Todos os homens neste mundo vivemos com duas ignorâncias: a primeira da morte, a segunda da predestinação. Todos sabemos que havemos de morrer, mas ninguém sabe o quando. Todos sabemos que nos havemos de salvar ou condenar, mas ninguém sabe qual destas há de ser. E por que ordenou Deus que a morte fosse incerta e a predestinação duvidosa? Não pudera Deus fazer que soubéssemos todos quando havíamos de morrer, e se éramos ou não predestinados? Claro está que sim; mas ordenou com suma providência que estivéssemos sempre incertos e duvidosos da predestinação, para que a morte nos suspendesse sempre o temor com a incerteza, e a predestinação nos sustentasse a perseverança com a dúvida.
Se os homens souberam quanto haviam de viver e quando haviam de morrer, que seria dos homens? Se eu, sabendo que posso morrer hoje, me atrevo a ofender a Deus hoje, quem soubesse que havia de viver quarenta anos, como não ofenderia confiadamente a Deus ao menos os trinta e nove? Por esta causa ordenou Deus que a morte fosse incerta, e pela mesma que a predestinação fosse duvidosa. Se os homens soubessem que eram precitos, como desesperados haviam-se de precipitar mais nas maldades; se soubessem que eram predestinados, como seguros haviam-se de descuidar na virtude; pois, para que os maus sejam menos maus, e os bons perseverem em ser bons, nem os maus saibam que são precitos, nem os bons saibam que são predestinados.
Não saibamos maus que são precitos, para que não se despenhem como desesperados, nem saibam os bons que são predestinados, para que se não descuidem como seguros. De maneira que estas duas ignorâncias, a ignorância da morte e a ignorância da predestinação, são as bases do temor da morte e do temor do inferno, e estes dois temores, as duas mais fortes colunas sobre que todo o edifício da vida cristã se sustenta, para que os homens não vivessem como néscios, mas obrassem como prudentes.
Porém a Santa Teresa tratou a Deus com tal exceção, e fez da lealdade do seu amor tão diferente confiança, que em lugar destas duas ignorâncias lhe deu as duas ciências contrárias: a ciência de quando havia de morrer, e a ciência de que se havia de salvar, porque sabia que nem a ciência e certeza da hora da morte lhe havia de diminuir a vigilância, nem a ciência e segurança da salvação lhe havia de entibiar o cuidado. Saiba Teresa quando há de morrer, e saiba que se há de salvar, para que, obrando sobre estas duas ciências, saiba também o mundo quão fielmente me ama.
Santa Teresa, tendo tantos inimigos e perseguidores, e ainda aqueles que por hábito e profissão o não deveram ser, não só os amava, que é o que basta, nem só lhes fazia bem, que é o que sobeja, senão que tomava sobre si os seus males, e se oferecia a fazer a penitência dos mesmos agravos que lhe faziam, sendo ela a que recebia a injúria e a que a pagava mais.
Para uma alma se salvar; basta guardar a continência e se guardar; e se votar virgindade perpétua, não só basta, mas sobeja; e Santa Teresa, não só se contentou com ser continente, que é o que basta, nem só com ser virgem, que é o que sobeja, mas, competindo em certo modo com a Mãe de Deus, passou a ser virgem e mãe juntamente. Digam-no tantos conventos de anjos humanos, uns com nome de mulheres, outros com nome de homens, que todos reconhecem a Santa Teresa por mãe.
E para que esta eternidade de Teresa se parecesse em tudo com a da Virgem Maria, assim como Cristo teve duas gerações, uma eterna, em que nasceu de Pai sem mãe, e outra temporal, em que nasceu de Mãe sem pai, assim a regra e religião carmelitana regenerada teve duas gerações e dois nascimentos, um antiqüíssimo, de pai sem mãe, quando nasceu de Elias, e outro moderno, de mãe sem pai, quando nasceu de Teresa.
Finalmente, para uma alma se salvar basta guardar os mandamentos de Deus, e se guardar também os conselhos de Cristo, não só basta, mas sobeja; e Santa Teresa não só guardou os mandamentos de Deus, que é o que basta, nem só os conselhos, que é o que sobeja, mas fez muitas coisas que não caem debaixo de preceito nem de conselho.
Chorar os pecados alheios e fazer penitência por eles, antepor o padecer por Deus ao ver a Deus, jejuar sete meses no ano, e passar muitas vezes muitos dias sem comer totalmente, querer estar no inferno até o dia do juízo, só pela salvação de uma alma, isto não há preceito que o mande, nem conselho particular que o persuada, e isto fez Teresa. Assim se não contentava aquele eminentíssimo espírito, aquele imenso coração, aquela alma superior a tudo e maior que tudo, assim senão contentava com o que basta, assim se não contentava com o que sobeja, assim anelava sempre a mais e mais.
Mas baste ao nosso discurso quanto tem corrido em seguimento deste glorioso não bastar, e descansemos um pouco na ponderação ou na vista dele. Outro favor concedido é que Santa Teresa intercede sempre eficazmente por seus devotos e por todos os que lhes pedem favor e a ela se encomendam, e lhe foi concedido esse favor. No primeiro, foram imprudentes de obra, porque dormiram quando haviam de vigiar; no segundo, foram imprudentes de palavra, porque disseram não baste, quando haviam de dizer não sobeje; no terceiro, foram imprudentes de pensamento, porque cuidaram que, arriscando-se pela caridade, podiam correr perigo; no quarto foram imprudentes de omissão, porque ao menos não pediram por quem lhes pedia. Elas não pediram nem intercederam por quem lhes pediu, e Santa Teresa, como dizia, pede e intercede eficazmente por todos os que lhe pedem e se valem de seu favor.

terça-feira, 16 de outubro de 2012


LÍNGUA TUPI



Foi o Padre José de Anchieta quem estudou a língua tupi falada pelos indígenas da costa brasileira quando do achamento da terra. Graças a ele, foi possível o acesso a informações do funcionamento dessa língua. Os estudos de toponímía e antroponímia também devem a esses estudos iniciais muito de sua construção na área de termos oriundos da língua mais falada da costa do Brasil.
Exemplos:
Imirim > y + mirim = riozinho onde y significa água, rio e mirim,  pequeno
                 Iguaçu > y + guaçu = rio grande