Quem sou eu

Professor de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, de Lingua Francesa, linguista, pedagogo, psicopedagogo, assessor em Educação

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ARNALDO ANTUNES




PEDRO XISTO



RONALDO AZEREDO



HAROLDO DE CAMPOS




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AUGUSTO DE CAMPOS



                                     "Tensão"

                                                      "Eis os amantes"



                                                           "Código"

JOSÉ LINO GRÜNEWALD


  t  e  m  p  o
                           p  a  s  a  t  e  m  p  o
                                            p  a  s  s  a

                                                 (1959)

a       v  i  d  a 

   c  o  m  i  d  a

   a       v  i  d  a

    b  e  b  i  d  a

d  o  r  m  i  d  a

     a     v  i  d  a

               i  d  a
            
                 1 9 5 8

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v e r
t i   c e
d e   t e   v e r
r e    v e r     t e
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POESIA CONCRETA - ANIMAÇÃO


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Um texto clássico declamado fica muito mais fácil de compreender!

terça-feira, 23 de outubro de 2012


Sermão do Mandato de Padre Antônio Vieira

Começando pelo amor. O amor essencialmente é união, e naturalmente a busca: para ali pesa, para ali caminha, e só ali pára. Tudo são palavras de Platão, e de Santo Agostinho. Pois se a natureza do amor é unir, como pode ser efeito do amor o apartar? Assim é, quando o amor não é extremado e excessivo. As causas excessivamente intensas produzem efeitos contrários. A dor faz gritar; mas se é excessiva, faz emudecer: a luz faz ver; mas se é excessiva, cega: a alegria alenta e vivifica; mas se é excessiva, mata. Assim o amor: naturalmente une; mas se é excessivo, divide: Fortis est ut mors dilectio: o amor, diz Salomão, é como a morte. Como a morte, rei sábio? Como a vida, dissera eu. O amor é união de almas; a morte é separação da alma: pois se o efeito do amor é unir, e o efeito da morte é separar, como pode ser o amor semelhante à morte? O mesmo Salomão se explicou. Não fala Salomão de qualquer amor, senão do amor forte? Fortis est ut mors dilectio: e o amor forte, o amor intenso, o amor excessivo, produz efeitos contrários. É união, e produz apartamentos. Sabe-se o amor atar, e sabe-se desatar como Sansão: afetuoso, deixa-se atar; forte, rompe as ataduras. O amor sempre é amoroso; mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta os extremos mais distantes: enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos.

Trecho de Sermão do Padre Antônio Vieira sobre a vida da Santa Teresa D'Ávila
Um dos maiores favores que Santa Teresa recebeu de Deus, e em que excedeu a todos ou quase todos os santos, foram dois segredos que o mesmo Senhor lhe revelou, ocultos a todos os homens: o primeiro, quando havia de morrer; o segundo, que se havia de salvar.                                                                  

Alguns santos tiveram revelação de sua morte; Santa Teresa teve-a de sua morte e de sua predestinação. Por isso digo que Santa Teresa vigiou sabendo mais que o dia e mais que a hora: soube o dia e a hora, porque soube quando havia de morrer, e soube mais que o dia e mais que a hora, porque soube também que, morrendo, se havia de salvar. E que sobre estas duas ciências, sobre a ciência e certeza de quando havia de morrer, e sobre a ciência e certeza de que se havia de salvar, vigiasse, contudo, Santa Teresa sem adormecer nem se descuidar um momento, antes fazendo uma vida tão rigorosa e tão maravilhosa, esta é a maior maravilha de toda a sua.
Todos os homens neste mundo vivemos com duas ignorâncias: a primeira da morte, a segunda da predestinação. Todos sabemos que havemos de morrer, mas ninguém sabe o quando. Todos sabemos que nos havemos de salvar ou condenar, mas ninguém sabe qual destas há de ser. E por que ordenou Deus que a morte fosse incerta e a predestinação duvidosa? Não pudera Deus fazer que soubéssemos todos quando havíamos de morrer, e se éramos ou não predestinados? Claro está que sim; mas ordenou com suma providência que estivéssemos sempre incertos e duvidosos da predestinação, para que a morte nos suspendesse sempre o temor com a incerteza, e a predestinação nos sustentasse a perseverança com a dúvida.
Se os homens souberam quanto haviam de viver e quando haviam de morrer, que seria dos homens? Se eu, sabendo que posso morrer hoje, me atrevo a ofender a Deus hoje, quem soubesse que havia de viver quarenta anos, como não ofenderia confiadamente a Deus ao menos os trinta e nove? Por esta causa ordenou Deus que a morte fosse incerta, e pela mesma que a predestinação fosse duvidosa. Se os homens soubessem que eram precitos, como desesperados haviam-se de precipitar mais nas maldades; se soubessem que eram predestinados, como seguros haviam-se de descuidar na virtude; pois, para que os maus sejam menos maus, e os bons perseverem em ser bons, nem os maus saibam que são precitos, nem os bons saibam que são predestinados.
Não saibamos maus que são precitos, para que não se despenhem como desesperados, nem saibam os bons que são predestinados, para que se não descuidem como seguros. De maneira que estas duas ignorâncias, a ignorância da morte e a ignorância da predestinação, são as bases do temor da morte e do temor do inferno, e estes dois temores, as duas mais fortes colunas sobre que todo o edifício da vida cristã se sustenta, para que os homens não vivessem como néscios, mas obrassem como prudentes.
Porém a Santa Teresa tratou a Deus com tal exceção, e fez da lealdade do seu amor tão diferente confiança, que em lugar destas duas ignorâncias lhe deu as duas ciências contrárias: a ciência de quando havia de morrer, e a ciência de que se havia de salvar, porque sabia que nem a ciência e certeza da hora da morte lhe havia de diminuir a vigilância, nem a ciência e segurança da salvação lhe havia de entibiar o cuidado. Saiba Teresa quando há de morrer, e saiba que se há de salvar, para que, obrando sobre estas duas ciências, saiba também o mundo quão fielmente me ama.
Santa Teresa, tendo tantos inimigos e perseguidores, e ainda aqueles que por hábito e profissão o não deveram ser, não só os amava, que é o que basta, nem só lhes fazia bem, que é o que sobeja, senão que tomava sobre si os seus males, e se oferecia a fazer a penitência dos mesmos agravos que lhe faziam, sendo ela a que recebia a injúria e a que a pagava mais.
Para uma alma se salvar; basta guardar a continência e se guardar; e se votar virgindade perpétua, não só basta, mas sobeja; e Santa Teresa, não só se contentou com ser continente, que é o que basta, nem só com ser virgem, que é o que sobeja, mas, competindo em certo modo com a Mãe de Deus, passou a ser virgem e mãe juntamente. Digam-no tantos conventos de anjos humanos, uns com nome de mulheres, outros com nome de homens, que todos reconhecem a Santa Teresa por mãe.
E para que esta eternidade de Teresa se parecesse em tudo com a da Virgem Maria, assim como Cristo teve duas gerações, uma eterna, em que nasceu de Pai sem mãe, e outra temporal, em que nasceu de Mãe sem pai, assim a regra e religião carmelitana regenerada teve duas gerações e dois nascimentos, um antiqüíssimo, de pai sem mãe, quando nasceu de Elias, e outro moderno, de mãe sem pai, quando nasceu de Teresa.
Finalmente, para uma alma se salvar basta guardar os mandamentos de Deus, e se guardar também os conselhos de Cristo, não só basta, mas sobeja; e Santa Teresa não só guardou os mandamentos de Deus, que é o que basta, nem só os conselhos, que é o que sobeja, mas fez muitas coisas que não caem debaixo de preceito nem de conselho.
Chorar os pecados alheios e fazer penitência por eles, antepor o padecer por Deus ao ver a Deus, jejuar sete meses no ano, e passar muitas vezes muitos dias sem comer totalmente, querer estar no inferno até o dia do juízo, só pela salvação de uma alma, isto não há preceito que o mande, nem conselho particular que o persuada, e isto fez Teresa. Assim se não contentava aquele eminentíssimo espírito, aquele imenso coração, aquela alma superior a tudo e maior que tudo, assim senão contentava com o que basta, assim se não contentava com o que sobeja, assim anelava sempre a mais e mais.
Mas baste ao nosso discurso quanto tem corrido em seguimento deste glorioso não bastar, e descansemos um pouco na ponderação ou na vista dele. Outro favor concedido é que Santa Teresa intercede sempre eficazmente por seus devotos e por todos os que lhes pedem favor e a ela se encomendam, e lhe foi concedido esse favor. No primeiro, foram imprudentes de obra, porque dormiram quando haviam de vigiar; no segundo, foram imprudentes de palavra, porque disseram não baste, quando haviam de dizer não sobeje; no terceiro, foram imprudentes de pensamento, porque cuidaram que, arriscando-se pela caridade, podiam correr perigo; no quarto foram imprudentes de omissão, porque ao menos não pediram por quem lhes pedia. Elas não pediram nem intercederam por quem lhes pediu, e Santa Teresa, como dizia, pede e intercede eficazmente por todos os que lhe pedem e se valem de seu favor.

terça-feira, 16 de outubro de 2012


LÍNGUA TUPI



Foi o Padre José de Anchieta quem estudou a língua tupi falada pelos indígenas da costa brasileira quando do achamento da terra. Graças a ele, foi possível o acesso a informações do funcionamento dessa língua. Os estudos de toponímía e antroponímia também devem a esses estudos iniciais muito de sua construção na área de termos oriundos da língua mais falada da costa do Brasil.
Exemplos:
Imirim > y + mirim = riozinho onde y significa água, rio e mirim,  pequeno
                 Iguaçu > y + guaçu = rio grande

quinta-feira, 5 de abril de 2012

POESIA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

MÃOS

Francisco José Tenreiro

Mãos que moldaram em terracota a beleza e a serenidade do Ifé.

Mãos que na cera polida encontram o orgulho perdido do Benin.

Mãos que do negro madeiro extraíram a chama das estatuetas olhos de vidro

e pintaram na porta das palhotas ritmos sinuosos de vida plena:

plena de sol incendiando em espasmos as estepes do sem-fim

e nas savanas acaricia e dá flores às gramíneas da fome.

Mãos cheias e dadas às labaredas da posse total da Terra,

mãos que a queimam e a rasgam na sede de chuva

para que dela nasça o inhame alargando os quadris das mulheres

adoçando os queixumes dos ventres dilatados das crianças

o inhame e a matabala, a matabala e o inhame.

Mãos negras e musicais (carinhos de mulher parida) tirando da pauta da Terra

o oiro da bananeira e o vermelho sensual do andim.

Mãos estrelas olhos nocturnos e caminhantes no quente deserto.

Mãos correndo com o harmatan nuvens de gafanhotos livres

criando nos rios da Guiné veredas verdes de ansiedades.

Mãos que à beira-do-mar-deserto abriram Kano à atracção dos camelos da ventura

e também Tombuctu e Sokoto, Sokoto e Zária

e outras cidades ainda pasmadas de solenes emires de mil e mais noites!

Mãos, mãos negras que em vós estou pensando.

Mãos Zimbabwe ao largo do Indico das pandas velas

Mãos Mali do sono dos historiadores da civilização

Mãos Songhai episódio bolorento dos Tombos

Mãos Ghana de escravos e oiro só agora falados

Mãos Congo tingindo de sangue as mãos limpas das virgens

Mãos Abissínias levantadas a Deus nos altos planaltos:

Mãos de África, minha bela adormecida, agora acordada pelo relógio das balas!

Mãos, mãos negras que em vós estou sentindo!

Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosa-dos-ventos

mas que da terra, da árvore, da água e da música das nuvens

beberam as palavras dos corás, dos quissanges e das timbilas que o mesmo é

dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração.

Mãos que da terra, da árvore, da água e do coração tantã

criastes religião e arte, religião e amor.

Mãos, mãos pretas que em vós estou chorando!

POEMA DE GUINÉ-BISSAU

Imerecimento

Tony Tcheca (António Soares Lopes)

Adormeço
na
luz
dos
teus
olhos
vejo
Veneza
que
não
conheço

Ondulo
num
círculo
de
ondas
de
levitação

Confesso:
não
mereço
a
ternura
da
gôndola
acariciando
as
águas
onda
a
onda

Poema de Guiné-Bissau

Imerecimento

Tony Tcheca (António Soares Lopes)

Adormeço
na
luz
dos
teus
olhos
vejo
Veneza
que
não
conheço

Ondulo
num
círculo
de
ondas
de
levitação

Confesso:
não
mereço
a
ternura
da
gôndola
acariciando
as
águas
onda
a
onda

quinta-feira, 29 de março de 2012

POEMA CABOVERDIANO

Anti-evasão
Ovídio Martins

Pedirei
Suplicarei
Chorarei

Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão
E prenderei nas mãos convulsas
Ervas e pedras de sangue

Não vou para Pasárgada

Gritarei
Berrarei
Matarei

Não vou para Pasárgada

O TEXTO DATADO MAIS ANTIGO EM PORTUGUÊS

A Ribeirinha
(ou Cantiga de Guarvaía)

Paio Soares de Taveirós

No mundo non me sei parelha1,
mentre2 me for' como me vay,
ca3 já moiro por vos - e ay!
mia senhor4 branca e vermelha,
queredes que vos retraya5
quando vus eu vi en saya!
Mao dia me levantei,
que vus enton non vi fea6!

E, mia senhor, des aquel di'ay!
me foi a mi muyn mal,
e vos, filha de don Paay
Moniz, e ben vus semelha7
d'aver eu por vos guarvaya8,
pois eu, mia senhor, d'alfaya
nunca de vos ouve nen ei
valia d'a correa.

1 parelha = igual, semelhante.
2 mentre = enquanto, entrementes. Essa forma arcaizou-se, isto é, caiu em desuso, mas o espanhol manteve a forma antiga mientras.
3 ca = pois, porque. Enquanto ca também se arcaizou, o francês manteve car até hoje, com o mesmo significado.
4 senhor = senhora. Por essa época, usava-se na poesia a palavra "senhor" referindo-se indistintamente ao homem e à mulher.
5 retraya = retrate, evoque.
6 que vus enton non vi fea. Aqui o autor valeu-se de uma figura de linguagem - mais exatamente, figura de pensamento — conhecida porlitote, que consiste na atenuação de uma idéia através da negação do seu oposto. Dessa forma, "não vi feia" equivale a "vi bonita".
7 semelha = parece.
8 guarvaya = manto escarlate próprio dos reis.