Quem sou eu

Professor de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, de Lingua Francesa, linguista, pedagogo, psicopedagogo, assessor em Educação

quinta-feira, 5 de abril de 2012

POESIA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

MÃOS

Francisco José Tenreiro

Mãos que moldaram em terracota a beleza e a serenidade do Ifé.

Mãos que na cera polida encontram o orgulho perdido do Benin.

Mãos que do negro madeiro extraíram a chama das estatuetas olhos de vidro

e pintaram na porta das palhotas ritmos sinuosos de vida plena:

plena de sol incendiando em espasmos as estepes do sem-fim

e nas savanas acaricia e dá flores às gramíneas da fome.

Mãos cheias e dadas às labaredas da posse total da Terra,

mãos que a queimam e a rasgam na sede de chuva

para que dela nasça o inhame alargando os quadris das mulheres

adoçando os queixumes dos ventres dilatados das crianças

o inhame e a matabala, a matabala e o inhame.

Mãos negras e musicais (carinhos de mulher parida) tirando da pauta da Terra

o oiro da bananeira e o vermelho sensual do andim.

Mãos estrelas olhos nocturnos e caminhantes no quente deserto.

Mãos correndo com o harmatan nuvens de gafanhotos livres

criando nos rios da Guiné veredas verdes de ansiedades.

Mãos que à beira-do-mar-deserto abriram Kano à atracção dos camelos da ventura

e também Tombuctu e Sokoto, Sokoto e Zária

e outras cidades ainda pasmadas de solenes emires de mil e mais noites!

Mãos, mãos negras que em vós estou pensando.

Mãos Zimbabwe ao largo do Indico das pandas velas

Mãos Mali do sono dos historiadores da civilização

Mãos Songhai episódio bolorento dos Tombos

Mãos Ghana de escravos e oiro só agora falados

Mãos Congo tingindo de sangue as mãos limpas das virgens

Mãos Abissínias levantadas a Deus nos altos planaltos:

Mãos de África, minha bela adormecida, agora acordada pelo relógio das balas!

Mãos, mãos negras que em vós estou sentindo!

Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosa-dos-ventos

mas que da terra, da árvore, da água e da música das nuvens

beberam as palavras dos corás, dos quissanges e das timbilas que o mesmo é

dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração.

Mãos que da terra, da árvore, da água e do coração tantã

criastes religião e arte, religião e amor.

Mãos, mãos pretas que em vós estou chorando!

POEMA DE GUINÉ-BISSAU

Imerecimento

Tony Tcheca (António Soares Lopes)

Adormeço
na
luz
dos
teus
olhos
vejo
Veneza
que
não
conheço

Ondulo
num
círculo
de
ondas
de
levitação

Confesso:
não
mereço
a
ternura
da
gôndola
acariciando
as
águas
onda
a
onda

Poema de Guiné-Bissau

Imerecimento

Tony Tcheca (António Soares Lopes)

Adormeço
na
luz
dos
teus
olhos
vejo
Veneza
que
não
conheço

Ondulo
num
círculo
de
ondas
de
levitação

Confesso:
não
mereço
a
ternura
da
gôndola
acariciando
as
águas
onda
a
onda